segunda-feira, 25 de abril de 2011

Só inglês e espanhol não bastam

Jornal: O Globo Data: 10 de abril 2011 Caderno: Boa Chance Autora: Paula Dias

Profissionais aprendem um terceiro idioma
para enfrentar desafios globais do Mercado


Não importa se o motivo é a competitividade no mercado interno ou o processo acelerado de internacionalização das empresas. O fato é que profissionais de áreas que antes dominavam apenas o inglês - e, em alguns casos, o espanhol - agora já estão correndo atrás do aprendizado de uma terceira língua. Não é raro encontrar administradores, engenheiros (de todas as especialidades), advogados e profissionais de comunicação e marketing em cursinhos de francês, alemão e até mandarim. O objetivo é conseguir negociar de igual para igual com parceiros internacionais e se preparar para possíveis desafios fora do país.

O nível de exigência das organizações em relação ao conhecimento de outros idiomas também mudou, afirmam especialistas e professores. Se um dia falar inglês já foi uma vantagem competitiva, hoje é pré-requisito. O espanhol, que já teve seu boom como segunda língua, está indo pelo mesmo caminho. Diante do cenário, dominar um terceiro idioma - de preferência estratégico para a empresa - pode ser o 'algo mais' necessário para conseguir uma vaga ou promoção.

Renato Grinberg, diretor-geral do portal de empregos Trabalhando.com e especialista em desenvolvimento de carreira e mercado de trabalho, conta que executivos que querem atingir posições de liderança já estão se preparando:

- Muitos falam inglês fluentemente, dominam o espanhol e agora sentem a necessidade de ter noções de um terceiro idioma para entrar em contato com parceiros e fornecedores de outros países. A escolha da língua, nesse caso, deve estar relacionada ao objetivo que o profissional tem para a sua carreira ou pelo perfil da empresa em que trabalha.

Mas a necessidade de falar até três idiomas - ou mais - não se restringe apenas a posições de gerência e direção. No caso de setores aquecidos da economia, como infraestrutura, turismo e óleo e gás, por exemplo, funcionários de nível operacional estão sendo desafiados a aprimorar ou adquirir conhecimentos em outras línguas.

É o caso do engenheiro de materiais Anderson Salustiano, de 29 anos. Formado pela UFRJ, com pós em 'Sistemas offshore' pela Coppe, o funcionário da Technip Brasil - empresa de soluções tecnológicas para exploração em águas profundas e instalações marítimas - trabalha na emissão de linhas de tubulação para a construção de navios-plataforma da Petrobras.
Fluente em inglês, o profissional (que também tem noções de alemão, italiano e mandarim) agora pretende retomar o curso de francês.

- Depois que comecei a trabalhar na empresa, que é francesa, e passei a ver outros funcionários falando em francês, não tive dúvidas: devia começar a estudar o idioma - diz Salustiano, que já fez algumas aulas particulares com outros colegas no trabalho. - Tenho certeza que falar várias línguas pode abrir portas. Ano passado, fiz um curso de especialização em Roma e, apesar de as aulas serem em inglês, boa parte dos alunos era da Itália. Acabei sendo apelidado de "dicionário” porque ajudava italianos com o inglês e traduzia algumas palavras em alemão para o francês.


Procura por mandarim cresceu 32% em 2 anos

Apesar de o estudo de francês, alemão ou italiano ainda ser uma estratégia de crescimento valorizada pelo mercado, quem almeja um cargo gerencial - seja dentro ou fora do país - parece já ter entendido que assimilar noções de mandarim pode ser o empurrãozinho que faltava. Principalmente em multinacionais que lidam com empresários e investidores chineses.

A prova de que a corrida pelo aprendizado da língua já começou é o aumento da procura por cursos preparatórios. No Centro de Língua e Cultura Chinesa (Chinbra), tradicional escola de mandarim de São Paulo, a busca por cursos regulares ou intensivos do idioma cresceu 10% no ano passado, em relação a 2009. Este ano, o aumento foi de 20%. Ou seja, 32% em dois anos.

- Recebemos muitos administradores, engenheiros e profissionais de relações internacionais que representam suas multinacionais na China - conta Liang Yan, vice-diretora da Chinbra, que tem parceria com grandes empresas, como Petrobras, Bunge e Gerdau. - Montamos turmas personalizadas para as organizações e também indicamos alunos que falem o mandarim para vagas que exijam esse perfil.

A engenheira de produção Vivian Carvalho, funcionária da sede da L’Oréal, em Paris, ainda não fez um curso de idiomas com foco na sua área, mas sabe que falar vários idiomas é essencial para o seu crescimento. A profissional brasileira trabalha com o desenvolvimento técnico de novos produtos e lida, diariamente, com fornecedores e parceiros estrangeiros. Fluente em inglês, francês e alemão, além de ter noções de espanhol, ela agora pensa em fazer aulas de mandarim.

- Na Europa, a China é vista como o mercado do futuro. Trabalhar lá, bem como em outros países do Bric, se tornou obrigatório para gerentes que querem dar um salto na carreira.

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